sábado, 19 de março de 2011

Terráqueos (Earthlings – 2005)

Terráqueos (Earthlings - 2005) é um documentário sobre a absoluta dependência da humanidade em animais (para companhia, comida, roupa, entretenimento, e pesquisa científica) mas também demonstra nosso completo desrespeito por estes chamados “provedores não-humanos.” O filme é narrado pelo indicado ao Oscar Joaquin Phoenix (Gladiador) e apresenta música pelo artista de platina renomado pela crítica Moby. Com um estudo profundo em pet shops, fábricas de filhotes e abrigos de animais, como também em fazendas industriais, o comércio de couro e de peles, as indústrias de esportes e entretenimento, e finalmente a profissão médica e científica, EARTHLINGS usa câmeras escondidas e imagens nunca antes vistas para demonstrar as práticas cotidianas de algumas das maiores indústrias do mundo, todas as quais dependem totalmente de animais para o lucro. Poderoso, informativo e provocador, EARTHLINGS é de longe o documentário mais compreensível já produzido na correlação entre a natureza, animais, e os interesses econômicos humanos. Existem muitos filmes valiosos de direitos dos animais, mas este transcende o cenário. EARTHLINGS grita para ser visto. “Se eu pudesse fazer com que todos no mundo vissem um filme, eu os faria ver EARTHLINGS.” Peter Singer, autor do livro Libertação Animal.
Áudio - Inglês
Legenda - Português
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Legenda - Rapidshare
Autoria - Mega Documentários

Fonte e texto retirado de:

Deus, Uma Piada ou O Evangelho Segundo Fernando (Fernando Thomazi - 2010)

CAPÍTULO 3

DEUS, SEM MANUAL DE INSTRUÇÕES DO UNIVERSO, DEMORA 6 DIAS PARA CRIÁ-LO

- Que droga! - pensou Deus - O manual de instruções do universo está em mandarim. Camelô desgraçado! Isso que dá não conferir o produto na hora da compra! Se eu tivesse pelo menos me lembrado de usar a minha “onisciência” naquela hora, eu já saberia que seria enganado. O que é que eu vou fazer agora? Já esqueci quais são as palavras mágicas para criar a explosão inicial, a varinha mágica veio sem pilha e esse manual não me serve nem pra limpar “alguma parte suja do meu corpo”! Vou ter de criar o universo na base da manivela mesmo. (plec!) Já sei! Vou usar minha onipotência e aplicar o método “faça você mesmo”, associado ainda ao método “vamos mexer aqui para ver o que acontece” e rezar para ver se sai alguma coisa que preste dessa birosca!
E assim, Deus, já no 1º dia de criação se enrolou todo com as peças pequenas do kit universo que estavam espalhadas pelo chão da sala, meteu uma bicuda na caixa de papelão, atirou tudo contra a parede e foi pegar outra cerveja. De repente aquela voz interior, que era o seu “deus” interior, lhe sussurrou outra idéia luminosa:
- Mas, tu é um mané mesmo, hein, ô?! Por que você não cria os anjos para te ajudar? Sem ajuda você vai levar tanto tempo mexendo nessas pecinhas que até lá o Big Bang já virou Big Crunch.
Deus, ouvindo sua voz interior, deu mais uma golada na cerveja, (chegou a escorrer um pouco pelo canto do lábio direito, mas ele limpou na manga da camisa, que é feita do mais puro e legítimo algodão de nuvem) sentou-se no sofá e parou para refletir... Olhou para a cerveja... Coçou a barba... Ajeitou “alguma coisa” dentro da cueca... Olhou para as peças espalhadas no chão... Coçou a sobrancelha... Olhou para a cerveja de novo... Olhou para as peças mais uma vez... E disse:
- Fuck itself! Cansei de brincar de Deus que faz tudo sozinho! Vou criar alguns anjos para me ajudar nessa parada! Contanto que “eu” leve a fama de criador do universo, o resto eu quero mais é que “se for da minha vontade”! Agora se sair porcaria, aí eu boto a culpa nos seres humanos, ou no Diabo, que será uma espécie de curinga na manga da camisa, e fica tudo certo! Claro que, de quebra, vou ter de inventar o “livre arbítrio” também, que é para tirar o meu da reta! Sabe como são essas coisas, né!? É sempre bom estar prevenido para o caso de neguinho, principalmente algum ateu infeliz, vir falar merda no meu ouvido!
E assim, Deus sacou de sua varinha mágica de condão, usando um dínamo para energizar a varinha, e criou (usando o “nada absoluto” como matéria prima) os anjos do céu! O anjo mais chegado dele era um tal de Miguel! Na verdade “anjo” apenas por enquanto, pois logo ele seria promovido à patente de “arcanjo”, que, traduzido quer dizer “anjo mais fortão e puxa-saco oficial de Deus”. (Judas 1:9; Apocalipse 12:7)
- Miguel?! - chamou Deus!
- Fala, chefinho!
- Vem cá, moleque! Chega aí no pedaço... A parada é contigo, merrrmão! Seguinte, ó... Você alguma vez já criou algum universo na vida?
- Que eu me lembre não!... Ah, peraí, que eu to lembrando uma coisa... Teve uma vez, na época do colégio, no laboratório de química, que a gente conseguiu criar uma nuvenzinha que atirava raínho (raio pequeno).
- “Nuvenzinha”... “Raínho”... Ô, Miguel? Que conversa “homoafetiva” é essa? Eu não tolero “veadagem” pro meu lado, hein!? Eu sou um Deus “espada”, rapá! Aliás, espada é coisa que eu adoro! Tenho até uma coleção particular na minha sala de armas bélicas. Qualquer dia eu te mostro!
- Ui, ui, ui, ui, chefinho! (alguém aí se lembra da Dona Dadá e do Seu Menezes do programa “A Praça é Nossa”?) Não tenho culpa de o senhor ter me criado todo delicadinho, com vestido branco e asinha purpurinada.
- Deixa pra lá, Miguel! Mas, vamos combinar o seguinte. Se alguém lhe perguntar na rua, fala que você não me conhece, Ok!?... Agora, me ajude aqui com essa caixa, que esse negócio é pesado pra caramba!
E assim, Deus espalhou novamente as peças do kit universo no tapete da sala. Agora sim, finalmente...
E no 1º dia Deus disse:
- Acende essa birosca de luz aí, pra mim, caramba, que eu não tô enxergando porcaria nenhuma! (Gênesis 1:3)
E houve luz, e viu Deus que a luz era boa, com selo de qualidade INMETRO, ABNT e ISO9000, com baixo consumo de energia.
- Eu logo percebi que o senhor não tava enxergando nada - disse Miguel - O senhor tentou encaixar uma nebulosa “atrás de mim”.
- Foi mal, Miguel! Não vai acontecer de novo, eu prometo!
- E quem disse que eu estou reclamando? Eu até gostei...
- Miguel! Comporte-se! Olha que eu te pego de cacete, hein?!
- Perdão, chefinho! Eu não falo mais nada!... Parei!
Ainda no 1º dia Deus fez os céus e a Terra: (Gênesis 1:1)
- Chefinho, posso arriscar um palpite?
- “Digue”, digo, “diga”!
- Por que o senhor não cria primeiro o Big Bang, depois as estrelas e o Sol, para daí sim criar a Terra, os outros 7 planetas e o planetóide Plutão? Porque, veja bem, criar a Terra antes das estrelas e do Sol vai parecer meio incoerente para os cientistas do futuro. Eu não digo para os primeiros seres humanos que surgirem na Terra. Para esses, ainda vá lá, não vai fazer muita diferença. Me refiro aos cientistas que dominarem conceitos elementares da astronomia! Vai por mim! Se eu fosse o senhor, eu criava pelo menos o Sol simultaneamente à criação dos planetas em sua volta. Imagina só, o planeta Terra criado sem ter o Sol em volta do qual orbitar. Não soa esquisito? Seja sincero!
- Como é que é? Tá querendo saber mais do que eu, é? Eu sou um Deus que já tem vários milênios de profissão! Concluí o estágio de divindade quando você nem tinha nascido ainda, sou pós-graduado em onipotência, fiz o cursinho técnico de onisciência pelo SENAI e ainda um curso de onipresença pelo Instituto Universal Brasileiro, via onisciência. Atualmente defendo a tese de doutorado de que eu sou o único deus verdadeiro e o que tem os “atributos masculinos” maiores. E você é formado em quê mesmo?
- Em nada ainda, chefinho. Mas o meu sonho é trabalhar de “participante do Big Bosta Brasil” ou ser aprendiz do Roberto Injustus. Sei lá, acho que eu levo jeito pra coisa. Ajudar a criar o universo vai dar uma boa enfeitada no meu currículo de anjo e vai ajudar a alavancar a minha carreira rumo ao SU-CES-SO, com certeza!
- Então, cala a boca! Mal acabou o colegial, só aprendeu a fazer “nuvenzinha que solta raínho” e já quer saber mais do que eu, que sou Deus há mais de 2 milênios?! Não, isso não vou admitir!
- Mas, foi só um palpite! Não gostou, faz do seu jeito, então! Agora é que eu não falo mais nada “mesmo”!... Parei!
E depois de Deus ter criado a luz, ele olhou para ela e “viu” que a luz era boa, demonstrando com isso o seu apurado senso de autocrítica...
- Ok! - concordou o anjo Miguel - A luz é boa, mas lembre-se que a escala do kit universo é:

- Cala a boca que eu não pedi sua opinião!
- Se irritou de novo, chefinho?
- Pois é! Você sabe que eu não suporto críticas negativas! E toda vez que o sangue sobre pra cabeça eu acabo fazendo besteira, tipo descontando minha raiva em algum povo idólatra por aí! Também, ninguém é de ferro, nem eu que sou Deus, pô! Eu preciso descarregar minhas tensões em alguém. Então eu acabo descontando minha raiva em pessoas pecadoras para jogar a culpa nelas e não dar muito na cara esse meu temperamento agressivo e impulsivo, sabe!?
- Tenha calma, chefinho! A gente mal começou a criar o universo... Vamos voltar pro batente?
- Vamos, que já está escurecendo e o serviço não rendeu! Deixa só eu criar mais alguma coisa aqui... deixa eu ver... Olha aqui, esse planeta tá fácil de fazer, hein!?... Vamos ver, agora... Me passe o continente americano aí que está do seu lado, por gentileza... Acabei de achar onde ele encaixa... Muito obrigado!... Agora, me passe o continente africano... Beleza!... Miguel?!
- Sim?!
- Reparou como o continente africano encaixa direitinho na América do Sul? Parece até que a África está afunhanhando o Brasil, não parece!?
- Bem, eu arriscaria o palpite de que, na verdade, será o contrário... Os colonizadores do Brasil é que vão acabar ferrando com os africanos. Pode escrever!
- Cê acha melhor criar o Oceano Atlântico entre eles, então?
- É conveniente!
E Deus criou o planeta Terra, dando uma ajeitada aqui e ali, tomando distância, às vezes, para ver de longe o aspecto geral da obra. A Terra ainda era chata, (nos 2 sentidos: tinha o formato de pizza napolitana sem azeitonas e era chata no sentido de ser uma “chatice” morar nela!) então Deus procurou um buraco na Terra, inflou os pulmões e encheu o planeta até ele ficar redondo, redondo, embora levemente achatado nos pólos, já que o produto era “Made in China”. Nessa época a Terra ainda era habitável. Só ficou inóspita depois que o homem passou a viver nela. E fez Deus também o céu para quando as pessoas olhassem para cima elas tivessem algo para ver, achar bonito e imaginar que Deus foi bonzinho de colocar o céu na parte de cima da Terra para contrastar com o fundo negro do universo. Porque, convenhamos, não tem a menor graça olhar para cima e enxergar um nada absoluto... E esse foi o fim do 1º dia. Deus e Miguel bateram o cartão de ponto cósmico e voltaram para casa “quebrados” de canseira do 1º dia do expediente de trabalho.
No 2º dia, Deus resolveu fazer separação entre as águas. (Gênesis 1:6-8) Ficou a água sobre a superfície da Terra e a água no céu que deixa as nuvens encharcadas. Assim, sempre que Deus quisesse fazer chover bastava torcer uma nuvem e a água caia na Terra. Bem, esse 2º dia parece ter rendido menos do que no 1º, pois na verdade, não foi “criado” porcaria nenhuma. Deus apenas modificou o que já tinha feito. Outra vez, Deus viu o que tinha feito, achou bonito e olhou para o anjo Miguel, que pensou em dizer alguma coisa, mas acabou ficando quieto.
No 3º dia disse Deus:
- Que haja na terra todo tipo de vegetação e erva, desde “Cannabis Sativa”, passando pela erva do Santo Daime até cogumelo, pra fazer um chazinho do Capeta de vez em quando. (Gênesis 1:11-13)
Como naquela época não havia Bíblia, igreja, TV, Internet ou Playstation, essa era a única forma de as pessoas dar uma “viajada” ou até mesmo pra conseguir “acreditar” que Deus existe. Miguel preparou o chá do Santo Daime e Deus deu uma golada para ver o que acontecia daí!
- Rapááá! O baguio é bão!!! Tô me sentindo nas nuvens, viajandão merrrmo, aí! - Assim, viu Deus que o que tinha feito era bom, da pura e de boa safra.
No 4º dia, depois do almoço, que foi a hora que Deus acordou depois de dormir “alegre” no dia anterior, Deus achou que o chá tinha lhe trazido alguns importantes esclarecimentos a respeito da vida e de sua própria existência enquanto entidade antropomórfica imaterial oriunda da mitologia judaico-cristã. E foi aí que ele se tocou, pois tinha criado as plantas e ordenado que elas produzissem a fotossíntese, sem ter criado ainda o Sol que ilumina a Terra. (Gênesis 1:1-19) E disse Deus:
- Putz grila, bicho! Como é que as plantas fizeram fotossíntese sem que o Sol existisse ainda? Explica isso pra mim, aí, ô, Miguel!
- Sei não, chefinho lindo! Será que as plantas usaram a luz que o senhor criou no 1º dia?
- Mas, aquela é a luz aqui de casa. Lembra que eu pedi para você acender a luz porque eu não tava enxergando nada? Só se eu deixei a janela do quarto aberta... Você ainda acha necessário criar o Sol, Miguel?
- Ah, eu acho que vai dar uma enfeitada boa nesse canto do universo. O sistema solar ia ficar meio sem brilho sem o Sol, não acha?!
E assim, disse Deus:
- Que haja os luzeiros no céu, ou seja, o Sol, para iluminar de dia, a Lua, para iluminar de noite, e as estrelas que, apesar de não servirem para nada no céu, pelo menos dá uma quebrada na escuridão da noite. (Gênesis 1:14-19)
Esse foi o 4º dia, onde Deus criou a luz pela segunda vez, pois já havia criado no 1º dia e esperamos que seja a última. Afinal de contas, chega desse negócio de ficar criando luz toda hora, não é mesmo!?
No 5º dia disse Deus:
- Que haja peixes no mar, incluindo aqui os peixes voadores, e que haja aves no céu, incluindo aqui as aves aquáticas, ou mergulhadoras. (Gênesis 1:20-23)
Deus achou tudo lindo e maravilhoso como sempre e dormiu um soninho mais gostoso dessa vez.
E disse Deus no 6º dia:
- Que haja animais na terra, inclusive aquele que eu mais gosto: o animal da espécie humana, pois esse tipo de bicho é mais a minha fuça, se parece comigo até no quesito “crueldade” ao matar as pessoas e é o único que vai conseguir acreditar que eu existo, além de, é claro, dar aquela massageada gostosa no meu ego divino. (Gênesis 1:24-31)
E, conforme Deus ordenara, os animais apareceram na terra, pipocando não se sabe de onde, menos o homem, que estava demorando a aparecer. Deus entrelaçou os dedos atrás da nuca, com os cotovelos afastados um do outro e ficou aguardando para ver se o homem aparecia na terra.
- Chefe! Posso falar?
- Diga, Miguel!
- Esse animal que o senhor está esperando parece mais complicado de fazer. Acho bom o senhor chamar a ajuda de outro anjo que entende mais desse assunto. Posso chamar?
- Que remédio...
- IIIIIIGOOOOOOOORRR!!!
- Opa! Tô chegando na área!... Pode deixar que eu assumo daqui para frente, Miguel! E aí, Deus, o que é que tá pegando?
- Estou tendo dificuldades para criar o homem.
- E para que você precisa de um homem?
- Porque eu sou um Deus carente afetivo, sabe, seu anjo!? Ninguém me dá atenção! Veja os animais, por exemplo: não fazem nem idéia de que eu existo! Me ignoram completamente! Eu tô precisando de um chamego, um dengo, um cheiro no cangote, um abraço apertado, um carinho humano, sabe!? A vida de um Deus não é fácil sem adoradores! É por isso que eu tô precisando de um homem que faça eu me sentir especial, sabe!?
- Olha, Deus, eu podia até pensar em aliviar a sua carência afetiva, acho que o senhor tem um rosto bonito, um tórax firme, no lugar, mas o problema é que eu não sou chegado em deus do sexo masculino! Se bem que eu não tenho muita alternativa, pois o senhor só criou anjo “cueca”. Então, o único jeito é eu imaginar “anjas”, do sexo feminino, e ficar só no auto-erotismo mesmo. Não é nada pessoal, não! O senhor não me leva a mal?
- Ai, minha Nossa Senhora Desaparecida! Que anjo mais lerdo para entender as coisas, viu!? Eu preciso de homem para me adorar, não é para fazer amor, não! Quando eu resolver f... com as pessoas, não é no sentido literal! É apenas força de expressão! Tudo eu tenho que ficar explicando, agora? Se liga, cabeção!... Bem, voltando ao nosso assunto, não sei se já te contaram, mas o manual de instruções do universo veio escrito em mandarim. Sabe falar mandarim?
- Patavina! Mas, não tem problema. Basta o senhor incorporar o espírito do Dr. Fritz. E eu prometo ser o melhor assistente que o senhor já teve. Mas, eu queria pedir uma coisa.
- O que?
- Posso chamá-lo de Dr. Godstein? Só o espírito do Dr. Fritz acho que não vai dar conta. O senhor precisa introjetar a personagem do Dr. Victor Frankenstein para a experiência que estamos prestes a realizar. Pode ser?
- Eu, particularmente acho isso uma frescura, mas tudo bem. Agora me diga, que tipo de matéria prima vamos usar para fabricar o animal da espécie humana?
- Ah, eu sei lá, tem tanto material bom e barato por aí. Que tal começarmos usando o barro?
- Barro? Tu tá de palhaçada comigo! Tá tirando uma com a minha cara, Igor?
- De modo algum, Dr. Godstein! Barro é um material abundante, barato e fácil de modelar. Por exemplo, se não ficar do seu gosto, basta desmanchar e remodelar o mesmo barro até ficar bom. O que acha? (Gênesis 2:7)
- É, pensando bem, até que não é má idéia. Então vamos logo com isso, que hoje eu não quero perder o último capítulo da novela “A Putinhas do Senhor Heitor” por nada nesse mundo. Hoje é o capítulo emocionante onde finalmente a transexual Maria Angélica vai revelar publicamente todo o seu amor pelo padre Marco Antonio, que por sua vez mantém um casamento secreto com a freira Olívia Estela, que se revelará uma bissexual extrovertida que mantém o matrimônio com Marco Antonio apenas pela oportunidade de se aproximar de Maria Angélica, seu verdadeiro amor.
- Filho da mãe!... Quem mandou contar o final? Eu também acompanho essa novela, puxa vida! Tá certo que o senhor é onisciente e tudo, mas eu não sou! Agora, faz o favor de usar seus superpoderes para me fazer esquecer os detalhes do capítulo final da novela! Vamos lá!
- Ah! Isso é moleza!... Pronto, Igor! Satisfeito?... Onde estávamos?... Ah, sim. Igor, tome essa pá e esse balde e vá buscar um pouco de terra enquanto eu pego um pouco de água do Rio Eufrates. Mas, tem de ser terra limpa, hein!?
Depois...
- Agora, Igor, bata tudo na batedeira até a massa engrossar, adicionando a terra aos poucos, que é para a massa não empelotar.
...
- Agora é só modelar. Deixa comigo que essa é a parte divertida do trabalho... Pronto! Agora, vamos adicionar uns 99% dos genes de um chimpanzé, para dar liga na massa, senão na primeira chuva que der o barro desmancha tudo... Sopramos no nariz para inflar os pulmões, mas tem de enfiar o dedo nos demais orifícios do corpo para o ar não escapar... Aplicamos o desfibrilador para ativar os batimentos cardíacos e... VOALÁ!!!... Saindo um ser humano fresquinho!!!
- Ah, é “fresquinho”, é!? Então, me apresenta!? - pediu Miguel.
- Eu vou é lhe apresentar os cinco dedos da minha mão na sua cara, Miguel, se você não parar com essa frescura nas nádegas!
E Deus chamou o homem de homem mesmo! Adão achou o nome comum demais, então Deus resolveu chamar Adão de Adão. E dessa vez, Adão disse que tava limpeza! E disse mais Adão:
- Oh! Onde estou? Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Qual o sentido da vida? E, afinal de contas, existe vida após a morte comprovada por rigorosos experimentos científicos controlados por grupos de cientistas independentes? - falando assim dava até a impressão de que Adão tinha acordado de uma ressaca, ou tava maconhado, mas é só impressão, viu!?
Ao que Deus respondeu na mesma ordem das perguntas:
- Você está no paraíso terrestre. Paraíso por enquanto, espere só até eu criar a mulher. Você é Adão, eu já te disse isso, procure prestar mais atenção nas coisas que eu falo. Você veio do barro. Idéia do Igor e espero que esteja orgulhoso do seu parentesco com o barro... Mas, que cara é essa, Adão? Anime-se! Poderia ser pior! Já pensou se eu faço você nascer de uma macaca? Ah, faça-me o favor, né!?... Agora, você vai até ali naquela sombra, deite-se de costas, pois nós faremos em você uma cirurgia de retirada de uma das costelas para matéria prima na manufatura da mulher. (Gênesis 2:21-23) A não ser que você queira passar a vida toda praticando o auto-erotismo! Mas, não se preocupe, não é nada muito complicado, só será necessária uma pequena incisão que deixará uma cicatriz quase imperceptível. Passando bastante pó de arroz, ninguém nota! O sentido da vida é gerar mais vida. Tá pensando o quê? Eu também sou cientista, se você não sabe! Agora, vida após a morte ainda não dá para ter certeza, pois ninguém morreu ainda, seu tolinho! Vamos colocar as coisas da seguinte maneira: teoricamente é muito provável que um dia exista vida após a morte, desde que, evidentemente, os animais da espécie humana comecem a morrer devido ao pecado! Fica condicionado. Primeiro uma coisa, depois outra! Assim está bom?
- Muito obrigado, Deus, por esses importantíssimos esclarecimentos, que me foram de muita valia! Mas, pelamordedeus, não vai esquecer a anestesia geral, hein!? Vê lá! Se eu sentir uma dorzinha que seja, eu dou um berro, meto cotovelada no fígado de quem estiver por perto e saio correndo pelado mesmo, puxando o soro na veia e tudo. Aliás, por que o senhor não faz a Eva do barro também? Só por curiosidade...
- E onde fica o romantismo nessa história? Pensa bem: a mulher como uma parte do seu corpo, sangue do seu sangue, carne da sua carne, picanha da sua picanha, osso do seu osso. E você ainda teve a sorte de eu ter tirado uma parte do seu corpo que você não usa muito. Já pensou se eu corto “um membro” do seu corpo para fazer a Eva. Ai é que você não ia gostar mesmo! Mas, uma costela não vai lhe fazer falta. Quando você e Eva brigarem ao ponto de saírem no soco, basta proteger o lado do tórax de onde foi tirado a costela e oferecer o outro lado para Eva socar. Não é tão complicado, vai, confesse!
- Outra dúvida...
- Ai, meu santo Dio! O que é desta vez?
- Por que é que o senhor não criou uma mulher para o senhor também?
- Porque quando eu me criei a mim mesmo, eu nasci com a libido baixa! Só para você ter uma idéia, nem auto-erotismo eu pratico! É verdade, não é mentira não! Agora, se um dia me der vontade, eu crio uma para mim também! Qual o problema? Já esqueceu que eu sou Deus e mando nisso tudo aqui? Então pronto!... Pensando melhor, é até capaz que eu engravide alguma mulher da Terra mesmo só para ver como é que é! Falar nisso, foi bom lembrar, preciso retomar a lição da apostila que ensina a materialização de espírito na forma humana. Mais alguma pergunta?
- Tenho.
- Então, cala a boca! Só perguntei por educação!... IIIGOOORRR!!!
- Sim, Dr. Godstein!
- Prepare a anestesia geral. Os instrumentos cirúrgicos já foram esterilizados?
- Sim, senhor!
- Ótimo! Agora me ajude a colocar essas luvas de látex.
E assim, 1 hora depois, a operação foi considerada um sucesso. Deus desce a máscara de cirurgião, enxuga o suor da testa, olha para Adão, depois para Eva, olha para o anjo Miguel e por último para o anjo Igor...
- Bem... - comentou Deus - Eu particularmente achei essa semana de trabalho muito produtiva. O que vocês opinam a respeito?
- Bem, eu gostei mais do Adão! - Responde Miguel - Eu achei que o tórax ficou bem definido. Aquilo depilado e com óleo Johnson vai ficar uma delícia! Mas o osso fêmur foi muito mal feito!
- Por quê? - perguntou Deus.
- Porque foi feito “nas coxas”!
- Pois eu gostei mais da Eva! - respondeu Igor - Bem, descontando aquelas celulitezinhas na altura no quadril, eu “catava” com certeza!
- Agora, posso fazer a minha pergunta, senhor? - pediu Adão - Para de ser chato, eu acabei de ser criado e você espera que eu já nasça sabendo?... Quer dizer, eu só nasci sabendo falar fluentemente e olhe lá!
- Pergunte, Adão... Pergunte...
- Por que é que eu tenho seios iguais aos da Eva, embora atrofiados, se eu não vou amamentar?
- Putz! - exclamou Deus, espalmando a mão na testa - Falha técnica!... Cadê o Igor que não viu isso? IIIGOOOOOOORRRR!!!... Eu não posso pensar em tudo também, né!? Eu tenho um ajudante pra quê? Só pra servir de enfeite? O duro é que depois vão dizer que a culpa é minha!... Deixe-me ver isso mais de perto, Adão! - Aproximou-se Deus, apalpando os mamilos de Adão.
...
- Você liga se eu deixar assim mesmo?
- Ah, por mim tanto faz! Incomodar, não incomoda não!
- Então, deixa quieto! Por enquanto só tá você e a Eva no planeta Terra, portanto ninguém vai tirar sarro da sua cara, Adão! Quando isso começar a encher de gente, aí você bota uma camisa de gola, que ninguém vai notar os seus peitinhos. Aliás, vou te dar uma dica importante: quando você estiver no “rala e rola” com a Eva, deixa ela chupar os seus mamilos que você vai ver como é gostoso à beça!
E esse foi o 6º dia da criação de Deus. No 7º dia, Deus, já com saudade da sua época de vagabundagem ociosidade, resolveu tirar o dia de folga e chamou toda a galera do céu para um churrasco no Termas Regional Jardim do Éden, um campo de nudismo com ampla área de lazer, suítes com banheira de hidromassagem, quadra poliesportiva, mata fechada com espécies nativas, quiosques com cobertura de sapé, cascatas naturais, espelho d’água com peixes ornamentais, trilha de mountain bike e off road... Enfim, aquilo era o paraíso, uma espécie de amostra grátis do céu. Deus estava “mais à vontade do que de costume”, deitado numa rede esticada entre a árvore do fruto proibido (do conhecimento do bem e do mal) e a árvore da vida, enquanto ao lado ia beliscando umas picanhas mal passadas e sangrando, acompanhado ainda de umas cervejas Antártida. (Gênesis 2:1-4, 9; 3:22-24)
- Se eu pegar neguinho que trouxe “Brama” vai levar cascudo! - gritava ele.
O anjo Miguel resolveu se sentar ao lado de Adão, peladão, enquanto Eva ia lavando a louça na cozinha com seu avental feito de folha de figueira. Todo o suporte técnico do churrasco (fogo, brasa, carvão e carne) ficou a cargo do anjo Lúcifer, que mais tarde ganhou o carinhoso apelido de Satã. Vem daí a fissura de Deus pelo cheiro de carne queimada. (Levítico 8:21)

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